Blog Instituto Singularidades
  • Blog Instituto Singularidades
  • Início
  • Quem Somos
  • PARA ENSINAR
  • PARA APRENDER
  • COMO GERIR
  • Contato
Blog Instituto Singularidades
  • Início
  • Quem Somos
  • PARA ENSINAR
  • PARA APRENDER
  • COMO GERIR
  • Contato
Para a professora, a literatura é uma ferramenta que enriquece o processo de aprender. Imagem: Unsplash

Alfabetizar entre livros: o lugar da literatura infantil

Cris Mori, professora da graduação em Pedagogia e especializada em alfabetização infantil, fala neste texto sobre a importância da literatura no letramento

  • Posted byInstituto Singularidades
  • 17 de fevereiro de 2021
  • in Posted in alfabetização / Slide
  • 0

A maioria de nós temos como memória de nosso processo de alfabetização as letras,  as sílabas, o bê-a-bá, as cartilhas… Em parte, isso ocorre, porque, apesar de se saber, pelo menos desde os anos 1980, que a alfabetização é um processo de (re) construção pela criança de um sistema de representação, prevalecem as práticas alfabetizadoras balizadas pela noção de escrita como código, em que as letras decalcariam os sons da fala de forma biunívoca e transparente.

Mas, em parte, isso ocorre também porque a maioria de nós não viveu um processo de alfabetização atravessado pelas práticas de leitura literária, cujos livros e sua dimensão de encantamento poderiam ter deixado em todos nós memórias outras, lembranças de modos de ser e de existir semelhantes e distintos dos nossos.

A despeito da enorme importância de (não) termos memórias literárias de nosso processo de alfabetização, as práticas de leitura literária desempenham outras funções no percurso que se estende entre o estado de não saber ler e escrever e aquela condição que, tradicionalmente, nomeamos como ser alfabetizado.

Refiro-me aqui à potência da literatura para a inserção das crianças no universo letrado, para o desenvolvimento da percepção de que a escrita pereniza a linguagem oral (a história é sempre igual, não importam as vezes em que é lida) e para constituição dos modos de dizer próprios à escrita.

Muito se denuncia sobre o enorme gap que separa os estudantes das redes públicas e privada de ensino, quando o que está em jogo é processo de alfabetização. Em decorrência, muito se discorre sobre a melhor metodologia para alfabetizar e, recentemente, a discussão sobre a eficácia dos métodos de base fônica foi reacendida pela Política Nacional de Alfabetização (PNA). No entanto, a meu ver, o cerne da questão é outro; está em outro lugar.

Vou defender aqui que o apartheid entre estudantes brasileiros, evidenciado (como a imprensa se regozija em anunciar) pelos sistemas nacionais e internacionais de avaliação, nada tem a ver com o como se alfabetiza. Por mais paradoxal que possa parecer, compreender que usamos sinais gráficos (os grafemas) para representar os fonemas da língua, de acordo com a lógica de um sistema de base alfabética, é relativamente simples e certamente muito mais simples do que creem aqueles que defendem que o problema de nosso país está nos níveis de alfabetização.

O que segrega nossos estudantes é a impossibilidade de a maior parte deles compreender por que se lê e se escreve e, sobretudo, de poder participar de práticas em que se lê e se escreve.  

Boa parte de nossos estudantes desconhece as práticas de leitura e escrita e o que elas nos consignam: ampliação de nosso universo de referências, experiências estéticas, diversificação dos conhecimentos, embasamento para nossas opiniões, alargamento de nossas experiências etc.

Boa parte de nossos estudantes não tem acesso a práticas de leitura e escrita diversificadas, especialmente aquelas ligadas às esferas sociais mais complexas, como a jornalística, a publicitária, a científica, a literária.

Ou seja, boa parte de nossos estudantes não tem tido a oportunidade de exercer plenamente sua cidadania, porque vem sendo sistematicamente apartada dos espaços sociais de produção e de disseminação do conhecimento, viabilizados pela linguagem escrita.

Comparem uma criança que vive em um ambiente familiar em que não há livros, revistas, jornais, TV paga, cinema, teatro, exposições, viagens e outra que vive em um ambiente vazado por todas essas experiências. Qual delas saberá o que é e para que serve a escrita, quando chegar à escola?

O que ocorre em nossa realidade é que a escola tem figurado como a única agência responsável pelo processo de letramento da esmagadora maioria das crianças, porque elas não têm, fora da escola, a oportunidade de vivenciar experiências com a cultura letrada, tanto porque seus pares de convivência mais imediata não são, eles próprios, sujeitos letrados, quanto porque as comunidades em que vivem padecem da ausência de equipamentos de cultura, como cinemas, teatros, museus, bibliotecas etc.

A tarefa das escolas que recebem essas crianças vê-se, assim, multiplicada, relativamente àquelas que têm, entre seus estudantes, as crianças que vivenciam as práticas sociais de leitura e de escrita desde que nascem.

Diante desse cenário, amplifica-se a necessidade de a escola promover práticas diversificadas de letramento, nas quais a leitura e a escrita tenham uso, função e significado. Em particular, amplia-se a necessidade da promoção de práticas de leitura literária e, como estamos tratando especialmente do processo de alfabetização, de leitura de literatura infantil. E por quê?

Em primeiro lugar, a literatura infantil – desde que de boa qualidade, o que inclui supor uma criança capaz e produtora de cultura e não um sujeito moral e eticamente modelável – tem a potência de constituir, diversificar e alargar o horizonte de referências das crianças, permitindo que elas conheçam outros modos de ser, existir, pensar e sentir o mundo. A literatura infantil de qualidade contribui, assim, para a formação ética e estética do sujeito.

Em segundo lugar, a literatura infantil desperta nas crianças o desejo de ler muitas vezes a mesma história. Em particular na Educação Infantil, há uma necessidade de se reencontrar com as mesmas personagens e o mesmo enredo, como se para confirmar que tudo vai acontecer exatamente da mesma forma.

Esses reencontros, além de aplacar o desejo de ouvir novamente, vão constituindo a percepção de que a escrita é perene e se o que está escrito se lê sempre da mesma forma, o que se fala também pode ser perenizado pela escrita. É assim que, paulatinamente, as leituras literárias vão contribuindo para que as crianças compreendam que a escrita representa a fala.

Por fim, a literatura infantil de qualidade oferece às crianças o encontro com os modos de dizer próprios à escrita. A fala letrada, essa fala atravessada e tramada na escrita, chega às crianças por meio da leitura: ouvindo contos, fábulas, lendas, mitos, poemas e as narrativas da literatura infantil, as crianças vão, aos poucos, constituindo sua própria fala letrada, incorporando à sua linguagem oral, recém constituída, aqueles modos de dizer próprios aos discursos e gêneros da tradição escrita.

Quando então decifrarem os mistérios do funcionamento do sistema de escrita e compreenderem como usar letras para representar sons, as crianças que acessaram e participaram de práticas de leitura literária não dominarão apenas a tecnologia da escrita, mas saberão, sobretudo, que a escrita não é um espelho do que se fala, mas sim um outro modo de enxergar, refletir e dizer o mundo à sua volta e de nele atuar.

 

 

Cristiane Mori é mestre em Linguística pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e fonoaudióloga pela PUC-SP. É professora da licenciatura em Pedagogia do Instituto Singularidades. 

 

 

 

Professor do ensino infantil: conte para a gente como você usa a literatura nas suas aulas!

 

Para saber mais: http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/
Entre em contato: singularidades@singularidades.com.br

 

alfabetização ensino infantil literatura infantil literatura para crianças

Post navigation

Previous Post

Visibilidade para alunes e educadores trans

Next Post

Rodas de conversa: psicanálise e educação

  1. O design como uma forma de blindagem contra os modismos educacionais

    • Posted byInstituto Singularidades
    • 13 de janeiro de 2021
  2. Feedbacks e devolutivas: interação essencial entre professores e alunos

    • Posted byInstituto Singularidades
    • 11 de novembro de 2020
  3. Desvende a BNCC: o que é, habilidades e competências

    • Posted byInstituto Singularidades
    • 9 de setembro de 2020
  4. Dicas para manter a atenção dos pequenos na educação on-line

    • Posted byInstituto Singularidades
    • 26 de agosto de 2020
  5. Pílulas de metodologias ativas, doses de parcerias: a Matemática na pandemia

    • Posted byInstituto Singularidades
    • 15 de julho de 2020


Posts Relacionados

Posted inSlide

Rodas de conversa: psicanálise e educação

  • Postedby Instituto Singularidades
  • 24 de fevereiro de 2021
  • 0
Posted inDestaquesSlide

Visibilidade para alunes e educadores trans

  • Postedby Instituto Singularidades
  • 10 de fevereiro de 2021
  • 0
Posted inDestaquesSlide

O que não vemos enquanto uma criança brinca: os benefícios imediatos da brincadeira pelo olhar das neurociências

  • Postedby Instituto Singularidades
  • 5 de fevereiro de 2021
  • 0
Posted inDestaquesSlide

A Formação de Professores e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a oferta de Educação Plurilíngue

  • Postedby Instituto Singularidades
  • 3 de fevereiro de 2021
  • 0

institutosingularidades

#PedagogiaSingularidades Nossa graduação em Peda #PedagogiaSingularidades
Nossa graduação em Pedagogia prepara os alunos para os desafios da sala de aula por meio de diferentes metodologias e recursos pedagógicos. Estude Pedagogia com a gente. As inscrições para o vestibular 2021 estão abertas e você pode saber mais no link na nossa bio.
#CursosDeExtensãoSingularidades A partir de um di #CursosDeExtensãoSingularidades
A partir de um diálogo com a Antropologia, no curso “Gênero e relações étnico-raciais na escola”, as professoras Fernanda Kalianny e Mayana Nunes trarão à tona debates contemporâneos sobre gênero, relações étnico-raciais, feminilidades, masculinidades e descolonização do saber. Acesse o link na nossa bio para mais informações.
#PósGraduaçãoSingularidades A educação especi #PósGraduaçãoSingularidades
A educação especial utiliza conceitos de diversas áreas para instrumentalizar as práticas docentes e promover a Inclusão e a Diversidade no âmbito escolar. Participe de uma importante mudança de paradigmas em um ambiente multidisciplinar para debater conceitos oriundos da psicologia, filosofia, sociologia, biologia, neurociências, direito e artes. Além do estudo de casos, a pós-graduação tem também oficinas práticas para a formação de profissionais que atuem direta ou indiretamente nas instituições de ensino. Inscreva-se agora para saber mais, no link na nossa bio.
#AconteceuNoSingularidades Nesta semana, nossos no #AconteceuNoSingularidades
Nesta semana, nossos novos alunos de Pedagogia participaram de um bate-papo com a Coordenação do curso. Além de darmos as boas-vindas aos estudantes, a coordenadora Cris Nogueira falou sobre a dinâmica do curso e apresentou a grade curricular, entre outros assuntos. Sejam bem-vindos e bem-vindas!
#LetrasSingularidades As inscrições para quem qu #LetrasSingularidades
As inscrições para quem quer estudar Letras em 2021 estão abertas! Venha fazer um curso diverso, culturalmente enriquecedor e que traz para a sala de aula os territórios e a realidade do aluno. O vestibular será realizado de forma remota, por meio de redação on-line. Acesse o link da nossa bio para fazer sua inscrição.
#CursosDeExtensãoSingularidades Se você atua na #CursosDeExtensãoSingularidades
Se você atua na Educação Bilíngue e quer aprimorar seus conhecimentos sobre planejamento e execução de aulas CLIL, inscreva-se no curso “Educação bilíngue: a abordagem CLIL”. Acesse o link na nossa bio para saber mais sobre este curso!
#PósGraduaçãoSingularidades A implantação da #PósGraduaçãoSingularidades
A implantação da BNCC do Ensino Médio já está em execução e vai trazer mudanças significativas para a educação brasileira. Venha conhecer nossa Pós BNCC no Ensino Médio: práticas para o currículo escolar e aprofundar seus conhecimentos. Acesse o link na nossa bio para fazer sua inscrição e para saber mais.
#ParceiroSingularidades O Singularidades firmou um #ParceiroSingularidades
O Singularidades firmou uma parceria com o Bradesco para oferecer linhas de crédito para alunos da graduação. Por meio desta iniciativa, o estudante poderá pagar cada semestre em 12 meses e renovar o parcelamento após o pagamento do anterior. Neste link você pode saber mais e simular o seu financiamento. Uma ótima notícia para quem quer começar o ano preparando-se para atuar no mundo da educação!
Load More... Follow on Instagram
back to top